A culpa é do PREC

Sei que ando a escrever menos, provavelmente ninguém deu por isso nem sentiu a falta que estes escrevinhaços também não assim como as tábuas da lei, mas tendo em conta que a maioria das vezes escrevo como se fosse um diário, uma coisa que escrevo quase de mim para mim, sinto que ando a falhar a mim própria, mas a culpa não é minha mas sim do PREC, Processo Revolucionário em Curso, isso mesmo, isto tudo porque ando a preparar entre outras coisas o 25 de Abril, esse processo revoluciona-me a vida de certa maneira, ando enterrada em imagens, de soldados a sorrir e mulheres com cravos nas mãos, jovens quase imberbes, vestidos de soldados, selos de apoio a famílias de presos políticos, documentos visados pela censura, fichas da PIDE, gente que saí da prisão com um ar cansado mas feliz, gente que se vai embora com uma mala velha amarrada com cordas em busca de um futuro melhor, se bem que por vezes o futuro passava por algumas humilhações, não conhecer a língua ou o país, enregelar com um frio que ultrapassava os meses de neve, estar longe da família, não conhecer o rosto dos filhos ou a forma como dormiam e viver num bairro de lata de nome estrangeiro bidonville…

As revoluções não são fáceis, obrigam-nos a encarar muita coisa que não queremos, a pensar noutras, a encarar verdades estranhas de frente, neste meu processo revolucionário em curso lido com prazos apertados, afinal é já para a semana, filmes a cortar e montar e músicas a escolher para o mesmo, escolho o desenho para os cartazes, um cravo, grandioso e rubro, escolho o formato dos convites, o desenho do bolo, imprimo convites, faço etiquetas, fecho envelopes, distribuo cartazes, idealizo o carro alusivo, predisponho-me a vestir a roupa mais que velha para de pincel em punho pintar placas de madeira, descasco orçamentos, relatórios de actividades, penso no futuro, no Dia da Criança que está a chegar, penso no imediato, o almoço está feito falta pensar no jantar, em paralelo continuo a inventar um mundo diferente só feito com as minhas palavras em que as personagens vão criando vida própria, vontades, teimosias, dói-me as articulações, não sei se é mesmo do novo medicamento que também me deixa metade do dia nauseada se é só destas coisas todas, estou a acabar de ler um livro com uma nova perspectiva do mítico Artur, um dia destes tenho de ir cortar o cabelo e até tenho uma noite esta semana limpa de reuniões e compromissos para me enroscar no sofá, gosto do Processo Revolucionário em Curso!

Comentários

Jorge disse…
Ai que saudades ai,ai !!!! estava a caminho uma sociedade socialista mais justa para todos. O Marocas/CIA e o otário Otelo conseguiram acabar com aquilo!!! foi pena !!!!
Fernando Samuel disse…
O PREC e a Democracia dele resultante foi o momento mais luminoso da história de Portugal.

Um beijo.
LBJ disse…
Confessa lá que gostas dessas dores e que te fazem sentir ainda mais jovem :)

Beijos vizinha
Zorze disse…
Ainda eu era bebé e já agitava o braço - O Povo unido jamais será vencido!

Conhecendo-te como conheço, sei que a 26 de Abril, já estavas a preparar o próximo 25 de Abril.

Beijoquita para esta flor.